O Primeiro Contra Mare

Este é o primeiro blog da minha autoria www.fotolog.terra.com.br/contramare, o qual perdi o acesso. Atualmente estou em novo endereço:www.contramare2.blogspot.com

29 abril 2005

Em favor da democracia ou das almas condenadas

08/04/2005 11:54

Quando a América ainda não existia no imaginário da humanidade, Portugal e Espanha avançavam tecnologicamente em busca de uma rota para as Índias via mar Atlântico. A passagem que ligava a Península Ibérica, cortando a Europa rumo à Ásia fora dominado pelos muçulmanos com a tomada de Constantinopla.

Portugal, bem mais avançado nos conhecimentos marítimos do que seu adversário espanhol, conseguiu contornar o continente africano e fazer do Oceano Índico sua rota rumo às especiarias na Índia.

Já a Espanha, desprovida de tamanho conhecimento, chegou à América imaginando se tratar da Índia. Na teoria, teria dado certo, se entre o continente europeu e o asiático não existisse o nosso imenso continente americano.

Naquela época, qualquer novo território descoberto já era dado, automaticamente, como propriedade dos católicos portugueses ou espanhóis. A justificativa era a salvação das almas nativas, que por não conhecerem os preceitos católicos estariam condenadas.

Eis então que fomos cristianizados. O povo indígena foi exterminado, dominado e explorado, tanto na região agora portuguesa quanto à destinada aos espanhóis pelo Tratado de Tordesilhas. Mas não antes que descobrissem neste continente as suas riquezas. Por isso o sucesso de Portugal na exploração da Índia e, só depois, a ascensão da Espanha ao se beneficiar com a aquisição dos bens astecas e maias.

Hoje, os motivos mudaram. Ao invés da salvação das almas, trata-se de levar democracia às ditaduras. Os objetivos são os mesmos, as justificativas são outras. Dentre tantas ações norte-americanas nos mais diversos países, como na própria América Latina com o plano Condor, cito a mais conhecida.

A intervenção no Iraque. O povo ‘precisava e ansiava’ por democracia. Hoje o que vemos é uma guerra civil, com os iraquianos se rebelando contra a invasão de suas terras e propriedades. Tudo em troca de uma democracia.

Em Genebra está sendo realizada a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, a conhecida ONU, criada pela superpotência norte-americana, a mesma que a ignorou ao ocupar o Iraque (como um filho ousa desobedecer seu próprio pai?).

Nesta Comissão, a grande questão é Cuba, devido à preocupação de Bush e comitiva com a falta de liberdade na Ilha. A justificativa: "A situação em Cuba é muito ruim. Há muita gente sofrendo no país caribenho, assim como muitos prisioneiros políticos e ausência de liberdades fundamentais, como a de expressão”.

Como denunciam intelectuais do mundo inteiro, a escolha do tema ‘liberdade’ é a busca estadunidense por uma justificativa ao bloqueio econômico e às agressões que, violando o direito internacional, exerce a maior superpotência contra Cuba.

A ausência de liberdade é a grande preocupação de Bush. Será a mesma dos próprios cubanos regidos por Fidel ou dos iraquianos quando sob regime de Saddam? Primeiro que há uma enorme diferença entre ambos ‘ditadores’. Fidel, ao contrário do que a tendencionista Forbes divulgara, não acumula riqueza como Saddam (a revista que se baseara ano passado no PIB cubano para calcular os dividendos de seu dirigente, neste ano se baseara nos ativos estatais.

Segundo que a realidade dentre Cuba e Iraque são bem diferentes. O incrível é encontrarmos nessa Cuba ditatorial os melhores índices dentre todos os países na América no que diz respeito à saúde e educação. Nós, que vivemos em um país democrático, não temos acesso ao que é prioritário a qualquer ser humano, a não ser que busquemos os meios privados. Em compensação, temos o direito de votar em nossos queridos deputados, que dentre as principais medidas, optam pelo aumento dos seus salários.

Não vou delongar em defesa de Cuba, até mesmo porque, a desinformação promovida em torno deste país é imensa. Só gostaria de lembrar que seja sobre o apelo de salvar almas do inferno, ou libertá-las para a democracia, o intuito sempre foi o mesmo: poder.