Difícil acreditar na nobreza dos homens
04/04/2005 17:49
Quanto mais aprendo, mais difícil fica acreditar em alguma religião. Alguns se rendem à dura realidade que a história revela e deixam de crer no ser Divino. Estão demasiadamente desiludidos com os atos ‘humanos’. Manipulação, coerção, desinformação... Tudo em troca do poder e da riqueza. Da manutenção de um modelo desigual e desumano.
Quanto mais pobre, maior a devoção – como nas cenas do filme Central do Brasil. Aí você analisa as pregações, os cultos, o evangelho. Palavras de consolo que remetem ao conformismo.
Entre os católicos, a ajuda de santos e anjos para garantir um espaço no céu. Entre os evangélicos, a fervorosa devoção a Jesus, com seus cultos inflamados e o eterno objetivo de conquistar mais fiéis, porque mil cairão à sua direita e outros mil à esquerda (sei que não é assim, mas é parecido. E não sei em que lugar está na Bíblia). Dentre os espíritas, o consolo que pagamos por um ato cometido no passado. É simples. Se você é pobre, é porque foi muito rico e ganancioso. Se ficou paraplégico é porque atropelara alguém e não prestara socorro.
Imagino que se nesses encontros, ao invés da garantia aos céus, ou de uma vida melhor na terra em troca de um bom comportamento (não matarás, não roubarás, não trairás) ensinassem como funciona o mundo. Aulas de sociologia, história e filosofia, por que não?
Sabemos a resposta. Porque estaríamos contribuindo para a evolução do macaco e não da punição que Adão e Eva mereceram. Imaginem se os pobres que mal têm recursos para se alimentar, e que ainda encontram na Igreja palavras de consolo, ao invés do conformismo quisessem conquistar seus direitos?
Imagino que Deus e sua família realmente existam. Mas que a mão do homem escreveu a sua história. Mãos que podem colher moedas de ouro ou trocados conquistados a muito suor.
Empresas falem, comércios fecham... A única instituição que não pára de crescer é a Igreja. E não são construções simples e discretas, são Torres de Babel, com faixas anunciando horários de cultos, vendendo não mais um pedacinho do céu, mas a felicidade imediata na terra, já que ninguém agüenta sofrer mais.
Os exemplos são muitos e nem precisam ser os mais extremos. Só queria fazer uma pergunta: quem aqui não peca? Uma fofoquinha, um olhar invejoso, uma noite de orgia ou a ausência no culto ou missa de domingo? E por causa disso iremos para o inferno, arder eternamente em seu fogo com micróbios comendo nossas tripas. E esqueçam: podem clamar, chorar, gritar! Jesus vai ignorar suas súplicas. Você não fez por merecer enquanto vivo.
Poderia citar o direcionamento que Frei Betto e alguns companheiros quiseram dar à Igreja no tempo da Ditadura Militar. Essa religião, enraizada nas questões sociais, ou aquela, praticada pela Irmã Dorothy, assassinada pelos latifundiários e grileiros, dentre tantas outras que mal aparecem em nossa história. Que são sufocadas pelas mais pomposas, como o triste falecimento do Papa. Papa que posou ao lado de Pinochet na ditadura chilena, que afastou aqueles que atentavam aos pobres e oprimidos em detrimento dos interesses latifundiários. Que ainda persiste com suas proibições à pílula anticoncepcional, à camisinha, ao aborto mesmo que em caso de estupro.
Sinceramente, apesar de batizada e crismada, não tenho religião. Não vou à missa aos domingos ouvir sobre penitências, penalidades, ou meu passaporte para o inferno, mesmo sabendo que não sou má apesar dos pecados que cometo. Parei de ler a Bíblia ao ver a mulher sendo designada a um papel secundário, de suporte ao marido.
Prefiro continuar lendo, pesquisando, estudando. Prefiro levar o espírito de inquietação ao de submissão. Prefiro acreditar em Deus e com ele conversar sem intermédio de orações decoradas ou conforme terceiros estipulam. Sou extremamente privilegiada para questionar sua existência. Mas também atribuo minhas conquistas à força de vontade que possuo dentro de mim. Quem sabe graças à Sua benção, ou por eu saber que nada cai do céu.
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