Trevo de Quatro Folhas
30/12/2004 09:36
Hoje em dia, descobrir um bom jornalista (qualidade com quantidade) é tão difícil quanto escolher um bom filme em uma locadora. E por mais que você peça ajuda para o atendente, este vai opinar algum lançamento hollywoodiano. Não que seja má vontade ou má intenção. Eles só estão a dançar conforme a música.
Escrevo esse artigo hoje para indicar uma jornalista que, sinceramente, é a minha cara (deveria escrever que sou a cara dela, pelo posto que ocupa como colunista da Caros Amigos e eu da Revista Mesc). Sem papas na língua. Linguagem clara e objetiva. Audaciosa. Realista. E, acreditem: ela nada contra a corrente.
Marilene Felinto. Eis o nome. Até então, só tive acesso aos seus artigos - maravilhosos diga-se de passagem - mas, assim que tiver um dinheirinho, vou atrás de todos os seus livros. Galera do bem, que gosta de lucidez e está cansado de ver tanta desinformação, leiam esta mulher.
Ao invés de ficar tecendo elogios (prefiro rasgando seda), vou citar alguns parágrafos para perceberem o por quê ela é pouco conhecida:
(...) Pois eu me orgulho de ter caído fora do establishment da imprensa paulista por me recusar a escrever o que o patrão manda. Não fui demitida da Folha de S. Paulo (como ainda me perguntam alguns leitores): pedi demissão. Saí no momento exato em que vieram impor o que eu deveria ou não deveria escrever. Não escrevo o que o patrão manda. Não nasci para marionete.
(...) Um conselho federal de jornalismo seria criado para coisa muito mais séria e importante: para combater a censura invisível exercida dentro das redações, que impede o cidadão de receber a informação justa, que, em palavras de Ignacio Ramonet, “cria uma espécie de tela. Uma tela opaca que oculta, que torna eventualmente mais difícil do que nunca, para o cidadão, a procura da informação justa.
(...) No chamado mapa da exclusão educacional brasileira, os nomes de Fernando Henrique Cardoso e Paulo Renato Souza, respectivamente ex-presidente e ex-ministro da Educação por uma década, deveriam aparecer estampados em letras góticas como os cartógrafos responsáveis pelo aprofundamento dos abismos, pelo agravamento das fendas que hoje definem o sistema educacional em duas bandas igualmente podres: o ensino público para ricos; o ensino privado para ricos.
(...) O rapaz em questão conseguiu há poucas semanas se inscrever para a seleção de bolsas, depois de mais um episódio de humilhação, depois de ir e vir diversas vezes atrás de documentos que nunca eram considerados os corretos. A estratégia é confundir e desinformar o aluno ao máximo, até vê-lo sucumbir na marola covarde da burocracia, até fazê-lo desistir do pedido.
(...) Cancelar serviços, reduzir drasticamente o uso deles, sobretudo o desperdício de dinheiro gasto com a assinatura do jornalão diário e mentiroso, da revistona semanal feita para o senso comum e abestalhado ler (e achar que é culto e instruído por isso).
Poderia citar muitas outras citações, mas o texto já está longo e, como todos sabemos, muita gente tem preguiça de ler... Se vvocê chegou até aqui, primeiro parabéns! Segundo: espero que a Marilene tenha te conquistado. Não pelo sorriso da foto acima, mas pelo conteúdo. Para ler na íntegra suas colunas, é só acessar o site da Caros Amigos. Elas estão na íntegra (ainda bem que lá não reina o aspecto mercadológico).
2 Comments:
Em 4/01/2005, às 01:22:03
Uau, eu li essas matérias que ela escreveu na caros amigos, essa primeiro que vc colocou, falando que ela não se vende, que prefere passar fome a trabalhar nessa imprensa elitista, demais. Sem palavras pra definir Marilene Felinto, a caros amigos em si. Davia ser semanal né?? hehehe Assim dava pra ler mais textos descentes como os delas e o da caros amigos como um todo.
Obs: sou a Camila Lecter do orkut
Em 13/02/2005, às 21:58:30, Antonio disse:
Gosto muito do estilo ácido dela!
Postar um comentário
<< Home